Aqui está a minha vida...

... esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento.

Cecília Meiréles

sexta-feira, 3 de julho de 2009

As mochilas e o medo...


(c) Tere Arigo

Ontem descobri que sou preconceituosa. Sinto-me tão (mas tão) envergonhada...

Quando saí do trabalho, apanhei o meu autocarro para ir para casa. Estava tão cansada... um bebé esteve doentinho e estas situações exigem o dobro da atenção (graças a Deus, ele já está bem melhor, hoje).

De volta ao autocarro: entram dois rapazes de origem árabe, de mochila ao ombro e sentam-se. Um senta-se numa cadeira ao lado da janela, colocando a mochila na cadeira do lado (que dá para o corredor). O outro rapaz faz precisamente o mesmo, mas do outro lado do autocarro. Conversam na língua deles, sempre com as mãos nas mochilas.

É aqui que me apercebo que estou a reparar em todos os pormenores da acção. Logo eu que vou sempre tão distraída que, muitas vezes, falho a minha paragem de destino.

Começo a ficar nervosa: tento perceber possíveis gestos recriminatórios, alguma palavra familiar num discurso que me é tão estranho. Um qualquer movimento, qualquer coisa...

Próxima paragem... saio? Não! Estás a ser ridícula!

A certa altura um dos rapazes carrega no botão para sair. "Se ele deixar a mochila para trás, eu saio de imediato", pensei. Estava apavorada...

O rapaz saiu e levou a sua mochila, claro. Duas paragens a seguir, saiu o outro rapaz (sim, com a mochila ao ombro).

Respirei fundo...

Só quando cheguei a casa é que me apercebi da gravidade do problema: eu, que estou sempre a criticar os xenófobos que me rodeiam (que infelizmente, não são assim tão poucos), sou igual a eles.

Poderia dizer que a culpa é de alguns americanos que, de tão desejosos que estavam para brincar às guerras, conseguiram envolver-nos numa invisível nuvem de medo. Poderia...

Dizer que me sinto profundamente envergonhada não é o suficiente para me redimir perante a comunidade arábe. Espero, sinceramente, que situações como esta não se voltem a repetir. Eu nunca fui assim, não quero agora começar a sê-lo.

Sem comentários:

 
Designed by Susana Lopes