Aqui está a minha vida...

... esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento.

Cecília Meiréles

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Inacabados [1]





"Volta a tirar do bolso o papel dobrado e torna a pô-lo junto dos outros pedidos, onde sempre tinha estado."





Matilde regressa a casa convicta que tinha tomado a decisão acertada. Contudo, uma pergunta insiste em atormentar os seus pensamentos: o que é que eu vou fazer, agora?

Toma um longo banho e deita-se... sente-se exausta. Não, agora não irá pensar em mais nada. Todo o seu corpo exige uns momentos de sossego. E adormece.

Acorda, já tarde da noite. O silêncio da noite é interrompido com o repetitivo pupilar do pavão. Lá está ele a lamentar-se..., pensa. Espreita pela janela: a lua vai alta na noite quente. Que quente que está a noite...

Senta-se na cadeira de balanço e beberica um pouco do chá frio. Olha à sua volta... a sala parece maior, a casa... vazia. Como é que tudo isto foi acontecer, porquê?

Já não há nada a fazer. Matilde sabe disso. Ela sabe disso desde o momento em que decidira - nessa tarde - devolver o requerimento.

Amanhã já terá a autorização e os bilhetes de avião. As malas... tenho que fazer as malas...

A escuridão triste e melancólica da noite dá lugar à luz do alvorecer. Os primeiros raios de sol espreitam pelas janelas de toda a casa. Matilde está pronta. Pronta para começar de novo, longe de tudo que a fez feliz, que a fez sofrer.

Só lhe faltava um último adeus.

Tu partiste antes de mim... Sinto tanto a tua falta.

Um último adeus àquele que fora a sua vida, o seu porto de abrigo. Matilde põe uma margarida - a nossa flor - em cima da campa e parte para nunca mais voltar.

#o excerto utilizado como início deste inacabado é da autoria de Patrícia Highsmith, in The Blunder. Fotografia de Tere Arigo.

exercício: usar uma frase retirada de um livro e terminar a história

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