"Volta a tirar do bolso o papel dobrado e torna a pô-lo junto dos outros pedidos, onde sempre tinha estado."
Matilde regressa a casa convicta que tinha tomado a decisão acertada. Contudo, uma pergunta insiste em atormentar os seus pensamentos: o que é que eu vou fazer, agora?
Toma um longo banho e deita-se... sente-se exausta. Não, agora não irá pensar em mais nada. Todo o seu corpo exige uns momentos de sossego. E adormece.
Acorda, já tarde da noite. O silêncio da noite é interrompido com o repetitivo pupilar do pavão. Lá está ele a lamentar-se..., pensa. Espreita pela janela: a lua vai alta na noite quente. Que quente que está a noite...
Senta-se na cadeira de balanço e beberica um pouco do chá frio. Olha à sua volta... a sala parece maior, a casa... vazia. Como é que tudo isto foi acontecer, porquê?
Já não há nada a fazer. Matilde sabe disso. Ela sabe disso desde o momento em que decidira - nessa tarde - devolver o requerimento.
Amanhã já terá a autorização e os bilhetes de avião. As malas... tenho que fazer as malas...
A escuridão triste e melancólica da noite dá lugar à luz do alvorecer. Os primeiros raios de sol espreitam pelas janelas de toda a casa. Matilde está pronta. Pronta para começar de novo, longe de tudo que a fez feliz, que a fez sofrer.
Só lhe faltava um último adeus.
Tu partiste antes de mim... Sinto tanto a tua falta.
Um último adeus àquele que fora a sua vida, o seu porto de abrigo. Matilde põe uma margarida - a nossa flor - em cima da campa e parte para nunca mais voltar.
#o excerto utilizado como início deste inacabado é da autoria de Patrícia Highsmith, in The Blunder. Fotografia de Tere Arigo.
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